«Por
amor de um verso têm que se ver muitas cidades, homens e coisas, têm que se
conhecer os animais, tem que se sentir como as aves voam e que se saber o gesto
com que as flores se abrem pela manhã.»
Rainer
Maria Rilke, 'Os Cadernos de Malte Laurids Brigge', versão portuguesa de Paulo
Quintela, Coimbra, 1955.
«Por amor de um
verso» uma madrugada
de Abril se fez
flor, se fez vento, se fez musgo
agarrado aos nossos
gestos. Por amor desse
mesmo verso, vamos
pela vida à sombra dos dias
que amanhecem claros
e quase insones mesmo
quando a
meteorologia se cumpre em chuva e em
poemas que não
resistirão ao derrame do tempo
sobre as palavras.
Por amor deste verso que se
desdobra em
estilhaços que não matam, em asfalto
que não queima sempre
que escrevo descalça, em
máscaras que já nada
escondem porque o único
espelho que resta em
qualquer lugar onde esteja
é o do meu rosto
quando penso em ti, dou por
mim a escrever-te um
verso de amor quando
queria apenas escrever
Abril.
[Sandra Costa]
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