Carla Gonçalves, Winter landscape
POEMA DE NATAL
Querias um poema à prova de bala
À prova d´água
Pequeno e maneiro
Transportável como bagagem de mão
Pudesse até à cabine acompanhar-te
No levantar voo
Temperaturas altas suportasse
Como estrela
Na tua árvore observasse
O teu acordar
Fosse ao micro ondas
Ao levantar te alimentasse
Anti nódoas, hipoalérgico, biológico e reciclável
Acolhesse todas as migalhas
Não encolhesse ou alargasse
Fosse o teu número
De circo, de contribuinte
De telefone ou de porta
A tua cara
A sombra de Brel e o teu cão
Um fundo de garantia
Tivesse Caixa e seguro de vida
Coincidisse com sete fôlegos
Ou ofícios
Inflamável d’ Inverno e sereno durante o Verão
Um poema que não aceitasse devolução
Ana Paula Inácio, Dezembro de 2019.
Querias um poema à prova de bala
À prova d´água
Pequeno e maneiro
Transportável como bagagem de mão
Pudesse até à cabine acompanhar-te
No levantar voo
Temperaturas altas suportasse
Como estrela
Na tua árvore observasse
O teu acordar
Fosse ao micro ondas
Ao levantar te alimentasse
Anti nódoas, hipoalérgico, biológico e reciclável
Acolhesse todas as migalhas
Não encolhesse ou alargasse
Fosse o teu número
De circo, de contribuinte
De telefone ou de porta
A tua cara
A sombra de Brel e o teu cão
Um fundo de garantia
Tivesse Caixa e seguro de vida
Coincidisse com sete fôlegos
Ou ofícios
Inflamável d’ Inverno e sereno durante o Verão
Um poema que não aceitasse devolução
Ana Paula Inácio, Dezembro de 2019.
Poema de Natal
Não quero um poema à prova de
bala,
impermeável, tamanho low
cost para caber
no fôlego do riso, sílaba a
sílaba reciclado,
após a passagem de deus ou da
desinfecção.
Não quero um poema asséptico
nem ascético,
estrofe lipoaspirada para
vestir um número abaixo
de todos os desejos ou que
coincida com gregos
e troianos, tempo de uma voz
só, uma assimilação.
Quero um poema de peito
aberto, submerso pelas
tempestades de noites como
esta, a escrita a cobrir os
planos inclinados de síncopes
e tudo o que é cicatriz
acumulando-se entre os dedos,
desperdícios de oração.
Quero um poema que ouse ou que
resista, consolado,
consoada de probabilidades
acima da média, anacrónico
como o amor que ilumina as
noites mais escuras e rouco,
rouco deste silêncio que é de
tudo iniciação.
Quero um poema que não
aceite devolução.
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