«[U]m
raio fuzilou junto às janelas e vi no espelho (...) o meu rosto desdobrado,
ardido, remoto: quem era?»
Herberto Hélder,
Servidões, Lisboa, Assírio &
Alvim.
A janela da casa é toda uma composição
de espera. O travo da melancolia em cada
poro estalado da madeira. A entoação
das insónias na sujidade dos vidros. Sombras,
vigílias, noites que se extinguem, estendendo-se
sem sobressaltos, em cada grão de poeira
que se acumula entre os dedos,
em cada pressentimento que não surge.
Não existem espelhos, só paisagens.
Não é só o teu rosto que não reconheces.
Que vulto é aquele que se aproxima do precipício
que é cada palavra que arrefece nas tuas mãos?
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