Na alameda dos
plátanos, em 1925 descrita 
como a avenida
directa ao mar, ergue-se a Vila Gladys
com o seu tom
rosa embaçado, os muros bordejados 
a branco e da
mesma cor todos os lugares que
ali servem de cadência
e de passagem: o portão tripartido, 
os frisos neoclássicos
das varandas e as portadas de 
madeira das
janelas. 
Quem por ali
passa nada sabe da história daquela
casa – se o
salão de bilhar no rés-do-chão ainda existe, 
quantas vezes Gladys
se terá recordado do som do 
seu violino sob
a luz dedilhada da araucária, porque
terão sido
cortadas as antigas palmeiras do jardim 
da entrada e
que (des)amores ainda poderão ser 
colhidos na luz
nocturna do lago.
Por último, muitos
anos depois deste poema, restará 
apenas o que
ficou inscrito no tronco dos plátanos 
como uma
memória de infância: um vislumbre 
da Riviera na
penumbra da luz de Verão de Francelos 
e que em
Setembro, antecipando regressos, enrolavas 
uma vez mais como
se tudo aquilo fosse somente 
uma planta de
arquitectura. 
[Sandra Costa]