segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Manual da vida breve XII

15.


Sobre a ponta do cavaleiro, ergue-se o farol
cuja torre se encontra do lado de terra
e a entrada está virada para o mar, como se
adivinhasse o construtor a vertigem que se
acende e se apaga naquele ofício onde quase
tudo se assemelha à solidão e que a cada três
sinais de luz branca de novo a morte se afasta
mas regressa como as constelações quando
o céu se dissipa de sombras.

[Sandra Costa]


sábado, 17 de agosto de 2013

Manual da Vida Breve - XI



14.


Para o Vítor.

Na alameda dos plátanos, em 1925 descrita
como a avenida directa ao mar, ergue-se a Vila Gladys
com o seu tom rosa embaçado, os muros bordejados
a branco e da mesma cor todos os lugares que
ali servem de cadência e de passagem: o portão tripartido,
os frisos neoclássicos das varandas e as portadas de
madeira das janelas.

Quem por ali passa nada sabe da história daquela
casa – se o salão de bilhar no rés-do-chão ainda existe,
quantas vezes Gladys se terá recordado do som do
seu violino sob a luz dedilhada da araucária, porque
terão sido cortadas as antigas palmeiras do jardim
da entrada e que (des)amores ainda poderão ser
colhidos na luz nocturna do lago.

Por último, muitos anos depois deste poema, restará
apenas o que ficou inscrito no tronco dos plátanos
como uma memória de infância: um vislumbre
da Riviera na penumbra da luz de Verão de Francelos
e que em Setembro, antecipando regressos, enrolavas
uma vez mais como se tudo aquilo fosse somente
uma planta de arquitectura.

[Sandra Costa]