quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Poema de Natal | Dezembro de 2015


Poema de Natal

DEFESA DE PETER HUCHEL OU CRITÉRIO

Também ao verso é vedado
ser mais leve
que o seu peso

Reiner Kunze, Poemas,
Paisagem Editora, 1984 (Tradução de Luz Videira e Renato Correia).


O critério com que inicias o poema
é o mesmo que se demora nas sombras
magoadas de Dezembro: um sopro rasga
a pulsação do mundo e o que se desfaz
entre os teus dedos é a lenta composição
de uma luz indeterminada que não se cansa
de ser matéria casual mas que, como tudo
o que é errância, jamais se poderá ver. 

[Sandra Costa]

domingo, 12 de abril de 2015

Manual da Vida Breve XXI

23.

«Nunca escrevi um poema sobre a morte».
Eis como um verso começa um poema
entre dois sonhos, um real e outro imaginado,
e depois se revela uma casa vazia onde só
o rasto difuso de uma tempestade que nunca
existiu te devolve a certeza de que no fim,
como no começo, o que nos abandona
é essa ilusão de que um dia caminhamos
no dorso do mundo.

[Sandra Costa]

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Manual da Vida Breve XX (Versão em italiano)

22.



E il terzo giorno sulla terraferma
ove l'erbe e le piante darebbero sementi
e gli alberi sarebbero più prossimi ai frutti,
è successo che han potato la magnolia
della mia via e la strada si è ricoperta della
fioritura que non è giunta a illuminare i giorni.

È passata la mattinata ed è giunto il pomeriggio
e un passero si è posato su uno dei pochi 
rami rimasti ad aprire il chiarore
dinanzi al silenzio, intessendo così
la poesia sul retro della creazione.

E certi uomini hanno creduto che tutto ciò
fosse una cosa bella.

[Tradução de Andrea Ragusa, colaborador do blogue Poesia & Lda.]

sábado, 3 de janeiro de 2015

Manual da Vida Breve XX

22.



E ao terceiro dia, sobre a terra firme
onde as ervas e as plantas dariam sementes
e as árvores se aproximariam dos frutos,
aconteceu que podaram a magnólia
da minha rua e o chão ficou coberto da
floração que não chegou a iluminar os dias.

Passou uma manhã e veio a tarde
e um pássaro pousou numa das poucas
hastes que restavam abrindo a claridade
perante o silêncio, assim se urdindo
o poema no reverso da criação.

E certos homens acharam que aquilo
eram coisas boas.

[Sandra Costa]