quinta-feira, 25 de abril de 2019

Epigrafia #13

«Por amor de um verso têm que se ver muitas cidades, homens e coisas, têm que se conhecer os animais, tem que se sentir como as aves voam e que se saber o gesto com que as flores se abrem pela manhã.»
Rainer Maria Rilke, 'Os Cadernos de Malte Laurids Brigge', versão portuguesa de Paulo Quintela, Coimbra, 1955.

«Por amor de um verso» uma madrugada
de Abril se fez flor, se fez vento, se fez musgo
agarrado aos nossos gestos. Por amor desse
mesmo verso, vamos pela vida à sombra dos dias
que amanhecem claros e quase insones mesmo
quando a meteorologia se cumpre em chuva e em
poemas que não resistirão ao derrame do tempo
sobre as palavras. Por amor deste verso que se
desdobra em estilhaços que não matam, em asfalto
que não queima sempre que escrevo descalça, em
máscaras que já nada escondem porque o único
espelho que resta em qualquer lugar onde esteja
é o do meu rosto quando penso em ti, dou por
mim a escrever-te um verso de amor quando
queria apenas escrever Abril.

[Sandra Costa]