23.
«Se eu
escrevesse, […], não haveria na minha escrita
o mais
pequeno vestígio de nostalgia.»
João Paulo
Sousa, O rosto de Eurídice, Teodolito,
2016.
Se eu
escrevesse, as sebes continuariam
a cercar os
terrenos aráveis contra a invasão
das tempestades
e os estragos não deixariam
de se sentir na
quantidade de voos que os
estorninhos
fariam pousar sobre o que
além resta da
sombra e da luz.
Se eu
escrevesse, a morte continuaria
necessária, sem
promessas, sem regressos
e os poemas demorariam
apenas um
instante,
permanecendo as palavras
mas não os
significados,
para que aqui
não reste
o mais pequeno vestígio de nostalgia.[Sandra Costa]