NADA SE SABE DAS PROFUNDEZAS
(primeiro estudo para uma duplicidade)
#1
À superfície do mundo
a ondulação do desejo:
uma pedra - o amor - submersa.
uma pedra - o amor - submersa.
#2
pode o poema permanecer
em círculo água em movimento
e sempre insuficientes as pálpebras
susterem o silêncio?
#3
talvez esta seja a textura dos dias
que se aproximam das profundezas:
a agitação sob a luz nada revela
e criam-se estratificações nebulosas
junto ao olhar como se a inquietude
- a água - fosse o único ritual
capaz de criar o mundo.
#4
[quero] toda a poesia é assim:
um lugar onde a superfície
esconde mais do que revela
e a morte é a pedra possível dentro da água
ao alcance do braço se nada se sabe das profundezas
[Sandra Costa]
(texto integral de um livrinho de 8x5,5 cm, com projecto gráfico e fotografias de Paulo Gaspar Ferreira e editado pela in-libris, em 2003)