sábado, 14 de abril de 2012

Polaroids - III

Polaroid de Andrei Tarkovsky. Daqui.

O ângulo retira da imagem o que está para além da melodia das coisas[1]. Fica a casa, outra casa onde o tempo também rasgou as paredes, o limoeiro carregado pelo aroma dos limões e um azulejo com a Virgem como se soubéssemos que a existência tem sempre necessidade de encontrar a primeira palavra para anunciar o sagrado. Não chove e a luz, rarefeita ainda quando passo, é a do mundo pela manhã.

Sandra Costa



[1] Do título da obra de Rainer Maria Rilke, Notas sobre a melodia das coisas (Averno, 2011).


[série de textos/poemas, chamem-lhe o que quiserem, que não foi escrita para as belíssimas polaroids de Tarkovsky]



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