As telas foram
encontradas, enroladas,
atrás do órgão
da Igreja de Santa Maria,
em Haddington Road, Dublin. Deviam estar
nas paredes da
Igreja mas, ali, de Harry Clarke
ficaram apenas os
vitrais.
Serão dois anjos da
Anunciação, em fundo
azul que alguém
crê celestial, que sobressaem
neste pormenor sobre
o qual assenta o poema.
As duas figuras trazem
túnicas bordadas
com flores, sandálias
romanas nos pés que
no primeiro
vislumbre parecem descalços e
um olhar triste num
perfil que se inclina
sob o peso das
asas ou do mundo.
Um dos anjos
segura uma flor branca,
talvez uma
açucena e não lírios do campo,
porque este não é
ainda o sermão da montanha,
enquanto o outro
contempla, sem as ver,
as línguas de
fogo que à sua frente pairam
mas não caem. O
anúncio é de luz e de como
esta tudo
cobre, sobrepondo-se à tristeza.
Dezembro de 2017
[Sandra Costa]