sábado, 23 de dezembro de 2017

Poema de Natal | Dezembro de 2017



Harry Clarke (1889-1931), Anjos (pormenor) 1924, National Gallery of Ireland



Poema de Natal

As telas foram encontradas, enroladas,
atrás do órgão da Igreja de Santa Maria,
em Haddington Road, Dublin. Deviam estar
nas paredes da Igreja mas, ali, de Harry Clarke
ficaram apenas os vitrais.

Serão dois anjos da Anunciação, em fundo
azul que alguém crê celestial, que sobressaem
neste pormenor sobre o qual assenta o poema.
As duas figuras trazem túnicas bordadas
com flores, sandálias romanas nos pés que
no primeiro vislumbre parecem descalços e
um olhar triste num perfil que se inclina
sob o peso das asas ou do mundo.

Um dos anjos segura uma flor branca,
talvez uma açucena e não lírios do campo,
porque este não é ainda o sermão da montanha,
enquanto o outro contempla, sem as ver,
as línguas de fogo que à sua frente pairam
mas não caem. O anúncio é de luz e de como 
esta tudo cobre, sobrepondo-se à tristeza.


Dezembro de 2017

[Sandra Costa]

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