Era pelas palavras que ela se revelava 
mas era também a escrita que lhe concedia
um esconderijo: cada poema era um espelho 
e um muro. 
Em cada diálogo anunciava-se um encontro 
possível, mas o rosto que a definia
não era madrugada nem horizonte pelo que 
o coração lhe pulsava como um túmulo 
onde a solidão ia ocupando 
o seu lugar.
Cada verso escrito era, assim, um pátio 
e um exílio: cobria-se de uma camada 
de silêncio cada vez maior até que 
um dia restará apenas, sobre a mesa 
onde só ela se sentava junto ao mar, 
essa película tão sensível quanto inerte 
que, afinal, era a sua pele.
[Sandra Costa]
 
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