Joan Miró, Sem título
(Desenho e colagem), Setembro de 1933.
Para a Ana Maria Guardado Dias.
O
poema como desenho e colagem.
Os
contornos do pintor que se pinta
a
si próprio, a traço negro em fundo
escurecido
e desbotado, com um braço
estendido
perante a tela. Ou um falo
que
se ergue perante uma escolha e
que
em conversa entre iguais resulta
num
caralho que pinta e pensa.
Dois
recortes de postais de mulheres
colados
sem displicência: uma a cores,
musa
de oitocentos, na cabeça do artista;
outra
a preto e branco, mulher moderna,
na
ponta desse seu braço que assim
se
retrata.
Por
fim, a imperfeição do círculo
vermelho
sobre o recorte rectangular
e
rasgado da lixa. Estudiosos viram nisto
“a
interpretação de Miró sobre a violenta
confrontação
entre vários sistemas
de
representação”, um alvo áspero
que
nos prende a atenção, a pupila
do
olho que se abre à percepção.
Outros,
pela sua posição junto
ao
pénis que se afigura, sugerem uma
vagina
abstracta ou, diria eu,
como
Eros pode ser dúbio,
sem
títulos e sem fragmentações.
[Sandra Costa]
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