Finisterra, Agosto de 2018.
«You should
go
from
place to place
recovering
the poems
that have
been written for you
to which you can affix your
signature.»
Leonard
Cohen, Book of longing,
Penguin, 2007.
Não imagino melhor intenção
para me precaver do inferno,
se me dedicasse a esses enleios,
do que ir de lugar em lugar
à procura dos poemas que não escrevi.
Os poemas da espera, nem um iniciado,
junto aos quadros de Holsøe, onde cada
uma daquelas mulheres aguarda o amor
ou a morte, como se ambas as estâncias
fossem o caule da mesma flor.
O poema para o último encontro
de Hellelil e Hildebrand nas escadas
da torre, momentos antes de todas
as histórias de cavaleiros e princesas
se desvanecerem em névoas e baladas.
Os poemas sobre os joelhos que não
esfolei na infância, uma vida inteira
a tentar evitar os segredos que se
adivinham na felicidade ou o medo
da catástrofe que sempre se lhe segue.
O poema sobre aquelas flores selvagens
e amarelas que crescem na berma da estrada,
também lá estavam em Finisterra pelo que
pergunto se será erva doce, e que aparecem
em tantas imagens que faço, fotográficas
e poéticas, mesmo sem as contemplar.
Não imagino melhor intenção
para me proteger da lonjura e do silêncio,
sei que um dia farei essa inevitável viagem,
do que ir de lugar em lugar
à procura dos poemas que não escrevi.
à procura dos poemas que não escrevi.
[Sandra Costa]
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