Tudo na imagem é
movimento. A incrédula
ondulação do rio antes
de se entregar, tréguas
consumadas entre
margens, amante que claudica,
à maresia. O reflexo
imperfeito, desamparado,
quase desfeito dos
barcos ancorados à superfície
de um espelho que é,
afinal, só água, só o amor,
essa substância ainda
mais inacabada, mas que
cintila como todos os
beijos ou todas as palavras
ou todos os silêncios
que terei de encobrir. A luz
tardia, a inclinar o
poema para além da cidade,
torna tudo impreciso,
um improviso, obscuro
o que apenas subsiste,
mas comove-se com
a improvável revelação
do teu riso quando
te apercebes que os
barcos não têm nomes,
só números, e assim
não os podes evocar.
Tudo na imagem é um
instante. O que oscila,
afinal, é o tempo,
esse pranto que se acende
ou se apaga, no lado
de dentro do meu coração.
[Sandra Costa]
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