domingo, 4 de dezembro de 2011

Da série «Manual da vida breve» - II

4.

Passo muitas vezes pela casa em ruínas.
Nada sei sobre a sua história mas hesito
em classificá-la como abandonada.

Tanto me agrada pensar nela como
um lugar que já não existe como enumerar
os pormenores que ela agora é:

um dia alguém assomou naquela varanda sem
ferrugem, conservando uma mão na madeira
da porta, e a vertigem terá sido tão fugaz

e tão intensa como a dor.

Agora as janelas têm vidros partidos
e as paredes perdem em definitivo aquele
tom rosa seco que se assemelha à solidão.


[Sandra Costa]


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