Poema de Natal
Percebi que o silêncio se pode anunciar como se fosse um odor. E sem me dar
conta descobri que posso ganhar longos momentos de imobilidade.
Tonino Guerra, Una foglia contro i fulmini,
Maggioli Editore, 2006. [Tradução Sandra Costa]
Quando partes em direcção à casa que já foi tua,
o frio intenso granulando aquela noite de outros
tempos, dás a mão à distância que te separa da
infância e inventas que o amor vem sempre
um pouco mais tarde. A qualquer momento
chegas à porta que lá em casa se diz de entrada,
espreitas pelo vidro embaciado e acreditas
que existem pequenos mistérios que ao contrário
de todos os outros não se escondem. Encontras
a chave como se ainda fosse tua, rodas a maçaneta
com um jeito para a direita, antecipando que a porta
só abre com gestos antigos, e ficas à espera
que o silêncio, se calhar todo o silêncio do mundo,
se quebre.
infância e inventas que o amor vem sempre
um pouco mais tarde. A qualquer momento
chegas à porta que lá em casa se diz de entrada,
espreitas pelo vidro embaciado e acreditas
que existem pequenos mistérios que ao contrário
de todos os outros não se escondem. Encontras
a chave como se ainda fosse tua, rodas a maçaneta
com um jeito para a direita, antecipando que a porta
só abre com gestos antigos, e ficas à espera
que o silêncio, se calhar todo o silêncio do mundo,
se quebre.
[Sandra Costa]
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