segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Exercício 2.0 #2

Tinha por hábito, sempre que outras realidades não se impusessem, visitar o museu à terça-feira depois de sair do trabalho. Comprava algo para comer na estação de comboios, percorria as duas ou três ruas que o separavam do edifício neoclássico que tão bem conhecia e sentava-se no pequeno muro que ladeava o museu a saborear mais o movimento crepuscular do fim de tarde sobre o pavimento da calçada, e a expressão sombria de uma nova linguagem que logo ali desaparecia, do que o recheio escolhido para alimentar o corpo.
Terminado aquele ritual, atirando para o caixote do lixo o que restava do mundo cá fora, entrava no museu. Era um velho conhecido pelo que não precisava de mostrar o cartão que lhe permitia aquelas visitas regulares. Cumprimentava os funcionários pelo nome sem, contudo, lhes sorrir. A um, esquecia-se sempre a qual, entregava a mala com os livros e os cadernos para que a guardasse até ao fim da jornada, conservando consigo apenas o seu catálogo das obras-primas do museu, ao qual juntou, quase de forma displicente, o guia da nova exposição.
Nem sempre levava um objetivo previamente definido. Naquele dia sim.

[Sandra Costa]


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