Tinha por
hábito, sempre que outras realidades não se impusessem, visitar o museu à
terça-feira depois de sair do trabalho. Comprava algo para comer na estação de
comboios, percorria as duas ou três ruas que o separavam do edifício
neoclássico que tão bem conhecia e sentava-se no pequeno muro que ladeava o
museu a saborear mais o movimento crepuscular do fim de tarde sobre o pavimento
da calçada, e a expressão sombria de uma nova linguagem que logo ali
desaparecia, do que o recheio escolhido para alimentar o corpo.
Terminado
aquele ritual, atirando para o caixote do lixo o que restava do mundo cá fora, entrava
no museu. Era um velho conhecido pelo que não precisava de mostrar o cartão que
lhe permitia aquelas visitas regulares. Cumprimentava os funcionários pelo nome
sem, contudo, lhes sorrir. A um, esquecia-se sempre a qual, entregava a mala
com os livros e os cadernos para que a guardasse até ao fim da jornada, conservando
consigo apenas o seu catálogo das obras-primas do museu, ao qual juntou,
quase de forma displicente, o guia da nova exposição.
Nem sempre
levava um objetivo previamente definido. Naquele dia sim.[Sandra Costa]
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