Depois de percorrer
as salas do subsolo, o plano determinava que devia subir para o andar térreo e
entrar na galeria principal da exposição permanente. Deu por si a sorrir. Dois
bancos almofadados. Não cedeu de imediato à tentação e demorou-se num dos quadros
que queria muito ver. Manhã na Baía de
Langland, de Alfred Sisley. Lembrava-se que descreviam as suas paisagens
como impressões de eternidade na expressão singular de um momento. Quanta
inutilidade naquela definição. Como não reconhecer ali a mesma dissolução do
mundo que a levava a escrever um poema? Fez uma pausa nos seus pensamentos. De
onde lhe vinha aquela altivez?
Acabou por se
sentar um pouco, primeiro no banco mais próximo, depois ao fundo da galeria, de
modo a que os pés lhe proporcionassem algumas tréguas e lhe passassem aquelas
vertigens. Urdir planos não lhe dava o direito de se mostrar a si mesma como
uma pessoa diferente, mas era uma explicação possível.
Enquanto o
tempo ia decorrendo sem que ela sentisse a sua respiração no seu pescoço, pôde
observar com cuidado os restantes quadros. Estavam ali alguns dos nomes que ela
mais apreciava e ficava sempre emocionada quando os reencontrava. Memorizava
pormenores, enumerava cores como contas dentro de um bolso, reconstruía o que
estava disperso e fazia daquilo, o que quer que fosse, começos.
A verdadeira
solidão é permanecer alheia ao que se aproxima.
[Sandra Costa]
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