terça-feira, 1 de agosto de 2017

Exercício #4

Como era hábito entre eles, pelo menos essa era a convicção dele, não havia silêncios como um último recurso; o fio da conversa conservava uma tensão que lhe parecia quase imaginária, semelhante à força de um pequeno deus em dia de criação, e os assuntos mais dispersos enovelavam-se sempre como se fossem uma misteriosa partitura.
Estranhou por isso que, algum tempo depois de nada ter acontecido pese embora uma desordem momentânea, começasse a sentir nos diversos músculos que controlam a respiração, com especial incidência para o diafragma, a perturbação que o silêncio dela, ali àquela hora tardia, criava na sua solidão.
Se escrevesse, ele teria confidenciado para si mesmo que, depois de dois sinais na mesma direção, alguém julgara criar um hiato na melancolia.

[Sandra Costa]

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