segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Exercício #9

Despedira-se com um beijo.
Tanto tempo depois e ela continuava sem conseguir explicar o que acontecera. Deram a conversa por terminada, fizeram contas com a realidade, um acompanhou o outro até ao carro, aperceberam-se que a cor do mundo mudara. O determinismo de uma cadeia de acontecimentos previsíveis como a única matéria sensível e eis que os lábios dela tocaram a boca dele de forma tão breve, e assim intensa, quanto uma possibilidade.
Ainda que em si pulsasse o sulco do filtro labial dele, uma suave depressão como topografia, jamais acreditaria que o amor fosse tão só a arte do possível. Preferia dizer-lhe que é uma imagem que já se desfaz. Um tempo que é sempre a primeira vez. Ou que todas as histórias têm um fim.

[Sandra Costa]


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