Edward Hopper, Quarto de Hotel,
1931
Quarto de Hotel (1931)
Uma mulher está
sentada na beira da cama num pequeno quarto de hotel. É noite e ela está
cansada. Tira o chapéu, os sapatos e o vestido. Não importa onde ficam
depositados. Na cómoda, no chão, no sofá verde. A ordem não é aleatória, mas os
lugares são negligentes.
Não desfaz as
malas e concentra-se na leitura da tabela de horários dos comboios para o dia
seguinte. Sabemos isto pelas anotações de Jo. Um papel amarelado transforma-se
num objeto de precisão sem que, no entanto, se reconheça o que comunica. Os
seus dedos parecem hesitar nas últimas linhas da tabela enquanto ela decide quanto
tempo terá para dormir ou para permanecer acordada até serem horas de ir para a
estação. O reconhecimento da hesitação tinge o seu rosto de uma imperturbável mas
obscura lucidez.
Em contraste
com a escuridão que a janela aberta deixa antever, o quarto está
artificialmente iluminado e a luz desenha uma diagonal cuja sombra pousa nos
seus pés que não cabem na tela. É evidente que algo deve sobressair deste
confronto mas nenhum conteúdo ficcional se atreve a desfazer o
entorpecimento que objetivamente percorre o corpo daquela mulher sentada na
beira cama num pequeno quarto de hotel.
[Sandra Costa]
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