quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Hopper #1


Edward Hopper, Quarto de Hotel, 1931

Quarto de Hotel (1931)


Uma mulher está sentada na beira da cama num pequeno quarto de hotel. É noite e ela está cansada. Tira o chapéu, os sapatos e o vestido. Não importa onde ficam depositados. Na cómoda, no chão, no sofá verde. A ordem não é aleatória, mas os lugares são negligentes.

Não desfaz as malas e concentra-se na leitura da tabela de horários dos comboios para o dia seguinte. Sabemos isto pelas anotações de Jo. Um papel amarelado transforma-se num objeto de precisão sem que, no entanto, se reconheça o que comunica. Os seus dedos parecem hesitar nas últimas linhas da tabela enquanto ela decide quanto tempo terá para dormir ou para permanecer acordada até serem horas de ir para a estação. O reconhecimento da hesitação tinge o seu rosto de uma imperturbável mas obscura lucidez.

Em contraste com a escuridão que a janela aberta deixa antever, o quarto está artificialmente iluminado e a luz desenha uma diagonal cuja sombra pousa nos seus pés que não cabem na tela. É evidente que algo deve sobressair deste confronto mas nenhum conteúdo ficcional se atreve a desfazer o entorpecimento que objetivamente percorre o corpo daquela mulher sentada na beira cama num pequeno quarto de hotel.

É Jo quem posa para Edward no estúdio de Washington Square. Na realidade, é uma mulher em viagem que nada nos revela para além da sua solidão.

[Sandra Costa]

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