quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Epigrafia #6



«estou sozinha respirando sozinha
e sinto Verão nesta solidão,
(quem disse que a solidão é um ser de Inverno?)»

Inês Lourenço, Um quarto com Cidades ao Fundo,
Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2000




A premissa estava errada.
A solidão não é.
Nem Verão nem Inverno.
Nem os teus pés descalços, escondidos
na água, entre as rochas de uma praia obscura.
Nem o movimento da tua mão
no vidro da janela para que a condensação
provocada pela chuva se apodere de ti.
Nem a forma como te encolhes
perante as pétalas secas da buganvília.
Nem o teu rasto no que desaparece
no perfume quase inerte das magnólias.

Tudo isto são inícios. Primícias.
A solidão não é.

[Sandra Costa]

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